Esperando o último ciclo

Já havia acabado o ciclo de antibiótico, já não havia o mínimo sinal de febre, já tinha preparado as placas comemorativas do último ciclo de quimio e já estava com o bolo para comemorar o fim do tratamento. Só não tinha as taxas de plaquetas adequadas para iniciar a última fase.

Desde segunda-feira eu estava pronto para iniciar o tratamento, só faltava as plaquetas chegarem a 100 mil. Com a ansiedade de acabar logo com tudo decidi esperar as plaquetas subirem internado no hospital. Já estando lá quando as plaquetas atingissem o nível adequado eu poderia começar a quimioterapia no mesmo dia. Mas expectativa e realidade não caminham juntas. Na segunda eu estava com 38 mil plaquetas, na terça 42 mil, na quarta deu um salto para 78 mil, já imaginei que quinta eu iria iniciar, mas o resultado foi de 81 mil. Por mais que subisse pouco, quando chegasse a 90 mil eu tentaria negociar com médico o início do tratamento, mas o resultado de sexta foi um soco no estômago, ao invés de subir, mesmo que pouco, o número baixou. Eu estava com 72 mil plaquetas.

Depois de 13 dias internado, sendo que destes 5 só esperando começar o último ciclo, decidi que era hora de ir para casa e esperar por lá mesmo. Assim diminuiria um provável fator desta demora, a minha ansiedade. Fazer exames diariamente, para acordar esperando o resultado, na expectativa de começar logo o tratamento estava me gerando uma ansiedade, expectativa, seguida de uma frustração. Ir para a casa era a única coisa que eu poderia mudar neste cenário, e sabendo que ajudaria a tornar a espera bem mais fácil, não tive dúvida que era o melhor a fazer.

Quanto mais próximo do final mais cansado a gente vai ficando. O efeito acumulativo da quimioterapia torna a recuperação da medula mais lenta e o efeito acumulativo de passar vários dias no hospital diminuem a nossa resistência para aguentar novas internações.

Além disso, a proximidade do final aumenta a ansiedade. Se no início você está tão longe deste momento que você se preocupa em como vai ocupar tanto tempo, no final falta tão pouco que esta preocupação não existe mais. Eu estava mais preocupado com o pós-último ciclo, o que eu iria fazer, que data eu iria voltar a trabalhar, quando poderia comer sushi de novo e aproveitar uma praia.

Para alguém também programado, fã de um cronograma (sim, tentei montar um calendário pós-ultimo ciclo, mas tive que desistir, afinal não sei nenhuma data ao certo) é hora de aprender a viver mais o momento, de botar a energia no agora e de aprender que vale a pena planejar os próximos passos, mas que eles acontecerão na hora que tem que acontecer, e por mais que eu me esforce para fazer acontecer, as vezes nem tudo está nas minhas mãos.

 

foto blog 15

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