Vivendo antes da linha de chegada

Estou em uma fase estranha do tratamento. Ainda estou fazendo exames de sangue semanais para acompanhar a imunidade e as plaquetas, mas já não tenho mais quimioterapias para fazer. Ainda tenho que tenho que tomar injeções de granulokine, mas já estou liberado para comer sushi e já estou voltando a malhar.

O último ciclo aconteceu sem eu perceber, quer dizer, eu percebi, mas não sabendo que era o último eu não me despedi do tratamento. Aguardei por muito tempo o oitavo e último ciclo, preparei faixas, bolo e quase mandei fazer uma camiseta. Realmente era um momento para ser comemorado com cara e felicidade de festa de aniversário, talvez um dos aniversários mais importantes. Mas não foi assim que aconteceu. Esperei, esperei e esperei mais ainda, mas minha medula nunca se recuperou o suficiente para começar o último ciclo. Já se passaram dois meses que eu encerrei a sétima quimio e meu corpo ainda não estaria pronto para fazer a oitava. Entretanto e por isso mesmo, ela foi descartada e o tratamento interrompido. Ao invés da última internação no hospital e de cinco dias intensos de remédio eu apenas recebi uma ligação do médico dizendo que tudo tinha acabado ali.

Como nada escapa sem emoção, eu vivi a dúvida de ter leucemia. Foram duas semanas onde o fantasma de começar tudo de novo rondava minha cabeça. Por mais que eu tivesse a calma e a positividade de acreditar que não seria nada disso, ter essa possibilidade rondando não era algo muito fácil de lidar. Não foi a toa que meu alívio de saber que minha medula estava apenas preguiçosa foi uma das coisas mais intensas que senti.

Passado este susto eu estou voltando a minha rotina, encontrando meus amigos, vendo muita gente, comendo muitas coisas que não podia, voltando à academia, já voltei ao trabalho, mas comecei pelas férias hehe. Aos poucos vou retomando a vida normal, mas ainda tenho o exame final do PET Scan para fazer. Esse é o exame que define o final desta fase. Ele é o certificado ou a medalha de fim da prova. Por isso, apesar de estar retomando tudo ao normal, ainda não cruzei essa linha de chegada.

Poderia estar esperando por este momento com ansiedade, mas a experiência do tratamento me ensinou a viver o momento. Estar consciente no presente, viver as alegrias de agora, que já são muitas. Então ainda não tenho aquele tão esperado momento de felicidade sublime e pico de emoção, mas tenho vários pequenos momentos de conquistas e novidades que aos poucos vão formando meu caminho de volta à minha vida normal. E se a vida não é sempre assim… esperamos por aquele pico de felicidade, aquelas férias, aquela festa, aquele final de semana, sempre projetando para o futuro, achando que ele vai encher a gente de alegria e plenitude, quando na verdade é a construção do caminho que te levou até lá que torna a vida mais completa.

Aprendi a viver com plenitude e consciência todos os momentos, prestando atenção e olhando para o presente!

foto blog texto 16

Um comentário sobre “Vivendo antes da linha de chegada

  1. Ana Paula Ferreira

    Meu amigo que orgulho e felicidade pelo seu restabelecimento. Que você possa ser muito feliz e que Deus te conceda muita saúde. Mesmo distante amo você meu queridão!!!!

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